Thursday, 24 July 2008

The last time

To my Lady

Tanto. Tanto, que às vezes rasga o meu entendimento, faz-se a insensatez dentro de mim, fere a minha razão e tem essa precisão integral de você, só você.
Tanto, que fica inconfundível de ver nos meus olhos, a marca que a tua ausência e presença causam, jorrando esses litros de instabilidade diante de todo o meu equilíbrio. Tanto, aliás, tão intenso, que parece ser finito, dando trégua assim ao pedaço de pra sempre que penetrou na minha indiferença, para depois dar lugar ao infinito de nossas vidas. Tanto, tanto que de um par de olhares fez-se um. Adentrando o par único e atônito às cores cristal que ousam transpor na sintonia, que faz emudecer.
De tal maneira é este amor que impele a nominação a ser insuficiente e inepta a explanar todo o afeto, todo o grau da febre que toma conta da sordidez da pele, que suplica por um momento de sobriedade emocional, capaz de tirar do sério o que, uma vez, foi tão apático. Como, se de tanto em tanto, essa extensão de anseios escapa por entre os dedos e explode em total harmonia com o desequilíbrio residente nas duas almas... Formando assim uma só aspiração veemente. Sim, tanto não suficiente para viver. Essa capacidade de ver tudo a partir de um mesmo ponto, ou que leve a um mesmo fim. E que irá padecer ao arrastar-se do tempo, de repente, com a marca indelével de um amor que não pertence a esse espaço, que é um por ser dois e é dois por ser um.

Monday, 21 July 2008

Don't go*

Insônia vermelha. Mais uma vez. Como se não bastassem lágrimas e sorrisos vermelhos, tenho insônia da mesma cor. A cor vermelha é corrosiva. Ela percorre o seu corpo, suas fiações internas, uma por uma, passando lentamente em questão de segundos até chegar na sua mente e parar a sua respiração, seus batimentos, suas armaduras. Te paraliza por completo, te desarma, e o que mais eu poderia fazer? ...
É tarde, mais ou menos metade do caminho percorrido. Tempo eu tenho, só o procuro para não perdê-lo. Mas a perca é tão subjetiva e fútil. Será? A maior parte das pessoas sofrem de perda, perda de alguma coisa, alguém, algum pedaço, algum momento... Imagino se não pudessem senti-la. Não, calma. Senti-la, mas positivamente. Seria muita petulância, certo? Certo. Essa petulância me faz respirar o ar de forma errada, me faz abraçar para ouvir o grito interno soterrado, gritar para silenciar e silenciar se fechar os olhos para respirar... Mas e a perda?
Perder... é deixar fugir. Deixar escorrer por entre os dedos o que não cabe no coração. Mas na natureza não existe a perda, existe a transformação. A mutação. Então perder é mudar. Transformar a perda em ganho? Isso não é uma afirmação, é outra pergunta para o vácuo. Outra petulância. Então, Natureza. Transforme a minha perda em árvore, e plante a fé que falta em mim. Mas dessa vez, prometo não deixá-la fugir. Estou fechando os olhos...


*I ain't never gonna let you go.

Thursday, 10 July 2008

Learn to fly

Para Rubens

Hoje estava em nosso ponto de encontro diário, onde sentava no banco e esperava você cantar. E percebi que vou sentir sua falta, do seu ninho lá no alto quase despencando da árvore, de conseguir entender (calado) o meu desespero e (também calado) conseguir me passar a calma necessária para seguir. Andei pensando muito esses dias sobre os caminhos. E não quis decidir qual seguir, seria muita audácia minha ter certeza de para onde vou, certo? Muita audácia.
Então resolvi escrever para você, querido. Resolvi falar só para você o que se passa. E sei que as meias palavras que lhe digo, vão ser suficientes para compreender o peso que agora sinto. Mal posso eu sentir o meu peso, mas por não conseguir sentir a leveza de tudo, sei que estou diferente. Dessa vez foram as minhas asas que quebraram, Rubens, e confesso não saber como consertá-las. Vou deixar estar...
Acho que estou precisando, de fato, de pilares para me segurarem, e para segurar os outros pilares ao meu redor, mas não os tenho, pudera eu, amigo. Queria um abraço seu, sentir o seu coração. Transpassar as nossas forças. Mas não, deixo estar... O que vejo de real me confunde e parece ultrapassar o entendimento e virar fantasia. E a fantasia segue real, surreal, irreal ? Ela só segue, me segue, ou eu que a sigo?
Rubens, hoje fiquei triste não só por saber que não nos encontraremos mais, mas também por descobrir que estou do outro lado, ou deveria estar. Sou eu, Rubens, a paciente... a interrompida. Eu não sei voar.

Thursday, 3 July 2008

A whisper

A noite vira dia e eu ainda não tenho respostas. E é tão tarde ou tão cedo para ir. Está tudo errado ou talvez posso rever o certo e reinventá-lo. Vou seguindo o corredor escuro que me levará até o começo. O começo. E o céu, se fechar meus olhos, posso caminhar em outro caminho, em uma colina, algo como um lar, tão longe quanto o céu. Ou tão perto...
De tudo que conheço, não há nada de que fugir nem tão pouco aonde ficar. E o lar que criei está afundando com as pedras. Não há nada aqui, já acordei e não há nada aqui. No escuro fala-se baixinho, para o invisível não roubar suas palavras, mas está claro e continuo sussurrando. Sussurro o tique-taque do relógio, o bater das asas, o vento no vácuo, a porta fechada, a luz indo embora, feridas se abrindo, a terra tomando forma, e todos são sussurros mas parecem gritar no escuro. Parecem altos e urgentes, pode até ser que desapareçam no segundo seguinte mas são gritantes nesse segundo exato. Pare, não tente abrir os olhos, sinta o barulho contínuo do sussuro. Logo ele vai gritar para você enxergar as cores do escuro e você está tão longe para ver, tão perto para voltar, tão perdido para ficar... Tique-taque, tique-taque, tique-taque, tique.

Tuesday, 1 July 2008

Protège moi

Então percebo: é madrugada, tenho mil planos para amanhã cedo, não durmo, provavelmente vou acordar tarde e não fazer nada do que planejo agora. Tenho que criar um plano B. Escuto ‘Protège moi’ incansavelmente, e estou me convencendo ainda mais, que preciso de algo/alguém para me proteger, de fato, de tudo. Mas não. Sempre fui acostumada a dar proteção, oferecer meus braços finos para serem molhados, meus olhos para vigiar, minha atenção para cuidar. Olá, alguém aí? Não.

Mas se tiver... Olha, tem muita coisa pra ser dita e muitas perguntas sem resposta. O que eu faço com todas elas? Normalmente as cuspo em algo escrito, exatamente o que estou fazendo agora, ou tento a velha técnica de abstração sempre válida, claro. Aí tenho a chance de cuspir tudo e percebo que realmente são muitas coisas para amanhã, coisas deveras inadiáveis. Então decido ir dormir. E as minhas dúvidas em avalanche vão seguindo, vou abstraindo sim, obrigada.

Somos os brinquedos do destino? Será que a festa acabou? Vou dormir e vão ter fantasmas emergindo em minha cama. Eles vão abrir o cadeado do portão, vão entrar pelo buraco. A epidemia está se estendendo, os pensamentos congelam minha razão, instinto, disposição. Minhas pálpebras estão se reduzindo, posso ver os rostos cinzentos agora e eles vão realmente emergir em minha cama. E sonho me perdendo no tempo, onde não há nada para ser feito então volto para a vida e estou só. Proteja-me do que desejo, proteja-me...

Thursday, 26 June 2008

Bend and break

Se pelo menos eu não me machucar, te encontro do outro lado, na luz. E seria algo como um encontro marcado, embora nenhum de nós tivesse conhecimento de nada. Quando os humanos se encontram, costuma ser aquela troca de histórias sem fim, risos, cumprimentos. Existe toda uma representação cultural por trás dos encontros marcados. Algo programado há algum tempo, mesmo que esse tempo seja alguns segundos inconscientes. Aí você pode imaginar, enquanto estiver se dirigindo para o local, como agirá ao ver o seu rosto perdido, o seu encontro marcado. Esquecem, às vezes, do encontro de corações, de encostar os corações e sentir a dor e a paz dos dias passados, das noites viradas, dos lençóis molhados, dos sorrisos oferecidos e da calma do pôr-do-sol assistido. [...] E ah de você se for pego pelo acaso ou pelo atraso! Que grito alto que levará... que pose arrogante vai suportar. Sempre me atraso. É quase previsível, até. Mas dou minha palavra que não é com a intenção de roubar o tempo de ninguém. Só vejo o tempo como algo quebrado, que todos utilizamos para desperdiçar, perder e acabo me perdendo nele também.
Se pelo menos eu não sufocar, te encontro de manhã, quando você acordar. Você teria tempo? Um minuto? Um passado? Uma lua, um lugar... Teria olhos cortantes, frios como os metais, ou teria os olhos molhados? De tanto dormir, de tanto esperar pelo sol, olhos molhados de sono. Abra os olhos, olha ali na janela, escuta ali na janela... é um novo dia vindo, é um passarinho cantando pra você abrir os olhos e a alma. A gente pode se encontrar quando você acordar. E se a noite for amarga, e também te sufocar, procure-me de manhã, então você despertará.

Sunday, 22 June 2008

Secret smile

Atravessei a rua, entrei no carro, olhos molhados, um par de escudos na ponta dos meus dedos. As esquinas escuras, como se a cidade estivesse fechada para dormir, ou descansar de alguma rotina barata e desinteressante. Aquele escuro, de alguma forma, remeteu-me um cheiro de tempos atrás, de quando duas almas se encontraram e pararam juntas, querendo fugir da realidade infame que rodeia e rodeia e rodeia tudo e todos. Que me rodeia, me sacode, me confunde, me distorce. Aí tinha um sorriso. Um sorriso-espelho, porque era para mim, era a imagem das minhas cores opacas adentrando um jardim de cores vivas. E tinha algo nesse sorriso que não me deixava ir embora, prendia meus medos, me fazia esperar. Como se ele falasse com a minha amargura e a atirasse ao mar. E tinham luzes, luzes para acender qualquer coisa apagada em mim.
Nesse dia chovia. Mas era uma chuva calma, sorrateira, que veio só para pregar uma peça ou pedir atenção. Era tarde, era quase cedo demais até. Mas parecia um espaço em linha reta, sem começo ou fim. Estava me equilibrando nessa linha reta, cada passo era uma nova pétala abrindo-se. Tinha uma névoa sobre meus olhos baixos que causaram tropeços, mas mantive a calma para continuar a reta, afinal tinha que chegar até um abrigo no meio do caminho. E procurei esse abrigo incessantemente, pois tinha frio demais para aquecer, tinha tristeza demais para sorrir.
O céu estava escuro, o asfalto molhado e a chuva suspensa. Segui em direção ao abrigo. Era um abrigo secreto, ninguém jamais teve acesso a ele, ninguém nunca chegou a conhecê-lo. E eu estava lá, diante do meu único lugar seguro, meu sossego. Entrei com calma, tentei não pisar na grama mal cuidada da varanda, tirei a poeira da janela de vidro, era uma janela bem grande. Tinha tanta água nas paredes, teto e chão... Foi preciso dedicação para consertar as goteiras e buracos do concreto, tapei os buracos com minhas próprias mãos, e depois de algum tempo pude tirá-las e a água secou. Nem me dei conta que as minhas mãos absorveram o molhado do abrigo. Era madrugada, finalmente. Mas eu sentia tanto frio... Veio uma brisa quente de repente e me pôs para dormir no seu calor. A brisa sorriu um sorriso desengonçado, com receios, meio pendendo para um lado, e com um brilho tremendo. Então também sorri. E não conseguia disfarçar a sensação de sossego, de paz. Ela sussurrou que tinha vários sorrisos, mas aquele desengonçado era o seu sorriso para mim, o seu sorriso secreto.
Deixei a janela de vidro entre aberta, era madrugada, tinha orvalho nas plantinhas, um ar úmido, a varanda encheu-se de pássaros pequenos, o cheiro de terra molhada, um balançar continuo e involuntário, que passava das árvores para a minha alma. A brisa cobriu-me o frio. Sorriu-me novamente. Estava em casa.

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