Tuesday 11 September 2012

Hindue blues

o enterro no cais

quarenta graus. embarco mesmo assim. tripulação, não temos âncora. presos no cais. o vento não balança nem as ondas. não balança nem a sensação térmica de trinta, não balança nem o teu cabelo de areia, sereia. não posso te olhar. vinte e oito graus. quase terra firme à vista, quase você, seus olhos me tirando o foco, me perdendo a mão, a dança, o pôr do sol, tudo que não foi, tudo que não tinha você, eu perdi tudo isso, me perdi, sereia. 
andei por cima daquele porto, cada cais, cada barco, cada peixe fora d'água, cada luz, corda, verso, ponte, pedra, terra, névoa, barulho, letra, escuro, tudo no seu dirigível. não. só piloto barco, a maresia me distrai e viro pó, também. andamos mais depressa, assim. descemos do dirigível. era você, sereia. quase na borda, quase sangue... quando abriu os olhos, sabia que seria exatamente assim. eu não podia olhar pra você. hipnotizo. mas sua calda, fisgada, seu sangue na areia, seu frio te deixando azul, tua tristeza tão minha... olhei. fato. cortou meu coração, a mesma farpa que cortou tua calda. "não dói" ah, sereia... ah, você... e essa lágrima, então? e esse adeus? você é grande, mas eu te pego, te coloco no meu agasalho. será que, se te beijar, você vira gente? será que eu viro sereia, também? será que a gente vai embora, então? serão teus os pés a navegar no dirigível? serão teus os olhos tão distantes que tento puxar pro meu cais? ah, não, sereia. dói sim. você pode explicar sim, sem falar... o teu volume pesa em mim. não, não, não abre o olho, você... abriu. mesmo  no escuro, te vi. dói, sereia. mas dói baixinho, dói só aqui, quando você tá indo embora. mas também sou do mar. eu volto com você. te faço um carinho, te deixo na fenda que dormes, nunca mais uso âncora, sem pretexto pra te prender.

quinze graus. desci do convés, me curvei até tocar a água, minha mão mergulhada no balanço das ondas. o sol nascendo. fechei o olho. agora pra te ver, sereia... você é tão bonita. sua mão quase emergiu do mar, tocando a minha. não faz mal. não dói. vou beber mais garrafas. assim as tuas cartas tem morada mais rápido, e, quem sabe não chegam onde estás? ah, você deveria cantar, sim. 
me canta até te encontrar, sereia. 

Tuesday 4 September 2012

Lipgloss and cigarettes


blue moon, um dia depois. minha boca em chamas, no primeiro dia de primavera. não sei dançar, mantenho a distancia, permaneço na impossibilidade. dormi tarde, era segundo dia de primavera. acordei tarde, também. pensando em lembrar da música que dancei com você, agradecendo muito não ter sido embalada pela vodka. dormi de novo e me permiti, ao acordar, colocar meu sueter sem cor, a bota suja de lama, um maço de cigarros, que até poderia apagar, sim, e desci sem caminho algum. parei em frente a sua janela, procurando um motivo para estar ali. não achei nenhuma boa razão pra te contar, então desci a rua sob o pretexto de que, por um dia, te levaria para um passeio, como se fossemos heróis. você seria má. e eu beberia o tempo inteiro. então nada poderia nos manter juntas, e roubariamos o tempo, assim, por esse dia. ou, simplesmente, escreveria sobre esse dia, com o cheiro de cerveja da sua boca, também cortada, também distante, de trilha sonora. mas, na verdade, eu não sabia qual daquelas era a sua janela. então acendi outro cigarro, lembrei da louça pra lavar, quase lembrei da música, também, desejando não ser I'll never gonna dance again

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I'll meet you in the light.

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