Saturday 14 September 2013

Maresia


esperei a maré secar, sereia
avesso quadrado do espaço
findava o quase remoto portão
não muda a cor

você de laço dado, febre, contorno
e eu esperando a maré encher

e eu esperando a maré chegar

Thursday 12 September 2013

Cruzando raios

uma onda suspensa, norte e sul
entre meio a tempestade.

a resistência pontual,
na linha do equador

a tua mão me segurava por dias
cruzava aquele muito longe
espaço sideral permanente

dava para ver desse lado
o quanto corria para ficar do teu
à margem de um pedaço, contramão

era um pouco emergente
o pouco caminho, o meu voo
era teu corpo a tiracolo
era o argumento, o começo

pesava o giro, retorno
e eu me sentia como você
o mar secou, esperei







Wednesday 11 September 2013

Um gosto de sol


fita branca na janela, desconfiei
pano, véu, flanela, ópio
pra desencardir 

luva, pó, sangue paleta
papel tomado a seco
bebo toda a boca falta
para estancar

o ponto vazio entre o lábio pintado 
do outro lado do corredor 
duas pedras de gelo sumindo, delírio

 beira o estorvo comendo o teu nome
limpando os teus gestos, teus beijos
caindo de adeus, afinco - exilado

descasco o pedaço daquela janela 
carmim correndo com medo 
duas luas, fogo e sal
pra embalar

o corte de sol, partido
bebo toda a boca
estanca

Tuesday 30 April 2013

Acrilírico

Virando nós marítimos 

Uma linha no espaço sideral
Permeia de um lado ao outro
Um sino batendo revés
A sombra virada pro mar
Um olho de cada cor

Ao partir do estado final
Tão longe que

Era você que estava sentada
Aquela janela dizia tudo de ti
O ponto seco voltando e indo
Nunca enxergava o lado de fora

Você cabia em mim

Uma légua pela metade
Teu pó e língua
A um passo de nós
Marítimos em fim










Friday 12 April 2013

Your latest trick


Sonho no convés

A tempestade estava quebrando, ou, pelo menos, parecia. Não estávamos a bordo de nada. A bombordo de nada. Era um espesso frio que descia pela espinha. Que circulava as nossas mãos, que não se tocavam em nenhuma hipótese. Era um áspero espasmo que tremia as fissuras daquela areia submersa, que a gente, também, não toca. Quanto mais perto de te tocar estava, mais a correnteza nos punha onda abaixo, aquele respirar contínuo, boca aberta. A nossa temperatura não condizia com a do mar. A voz falhava, não existiam hipóteses, nem horizonte, nem veleiro, nem âncora. É sempre inverno naquela espuma em neve, que voa com o vento. É sempre um inverno calmo, sombrio. A gente não enxerga debaixo d’água. Mas te via, mesmo assim, cada vez mais longe. A tempestade fazia caminho inverso, ela acalmava assim que os minutos faziam você afundar. A gente também não tinha fôlego, foi como desistir de estar em um lugar que te pertence. Foi exatamente assim que afundamos. A sua mão, braço, colo, oxigênio, pintavam o breu, precisamente. Não doía.

Quando você sentiu a areia gelada lá do fundo. Sem estepe, fazendo fumaça, era como se afundasse, também.

A água parecia invadir o barco, parecia estar batendo na âncora, parecia ter alguém preso lá. Era como estar pescando e sentir a isca sendo apanhada. Aquele mesmo movimento inquieto da linha. Puxei os cabos até a proa. Uma sombra se debatia entre a pata e a cruz da âncora. Não dói. Acordei de ti.   

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