Monday 6 February 2012

Instant Karma

sobre os coagulos de uma espera (cena última)

era terça feira de carnaval, o bloco na rua, quarenta graus de sol num céu meio azul. ela ficava no quinto andar de um prédio na esquina da avenida principal. as quatro e vinte ela apagou o cigarro no parapeito, como de costume, deu um gole da sua ultima dose de vodka com gelo - era um dia bem quente para medir necessidades - e foi até a pia da cozinha. lavou todos a sujeira doméstica de uma, duas semanas, e depois lavou seu rosto, com a mesma esponja que, outrora, engordurada, passava pela louça. esfregou a esponja até se sentir completamente livre de qualquer sujeira possível advinda do calor colossal daquela tarde. ou talvez ela quisesse simplesmente se livrar de outra coisa que perecia no seu rosto, além do pó que subia da avenida. e fincou demasiadas vezes uma das facas que estava sob a pia já seca, no rosto, também. era terça feira de carnaval, o bloco ainda na rua, quatro e trinte e sete. o sol não havia baixado, nem as pessoas tinham ido embora. o sangue não estava seco, ainda, quando Luza acendeu outro cigarro, olhando pelo parapeito a alegria alheia de qualquer pessoa ali presumidamente feliz. e, sem delongas, ela fitou o chão de cima, na altura da laranjeira a sua frente, num ponto de onibus interditado na avenida. o rosto ficou intacto pelo sangue quase coagulado, no meio do bloco. só o rosto, só o sangue. em retalhos
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to be continued

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