Friday 12 April 2013

Your latest trick


Sonho no convés

A tempestade estava quebrando, ou, pelo menos, parecia. Não estávamos a bordo de nada. A bombordo de nada. Era um espesso frio que descia pela espinha. Que circulava as nossas mãos, que não se tocavam em nenhuma hipótese. Era um áspero espasmo que tremia as fissuras daquela areia submersa, que a gente, também, não toca. Quanto mais perto de te tocar estava, mais a correnteza nos punha onda abaixo, aquele respirar contínuo, boca aberta. A nossa temperatura não condizia com a do mar. A voz falhava, não existiam hipóteses, nem horizonte, nem veleiro, nem âncora. É sempre inverno naquela espuma em neve, que voa com o vento. É sempre um inverno calmo, sombrio. A gente não enxerga debaixo d’água. Mas te via, mesmo assim, cada vez mais longe. A tempestade fazia caminho inverso, ela acalmava assim que os minutos faziam você afundar. A gente também não tinha fôlego, foi como desistir de estar em um lugar que te pertence. Foi exatamente assim que afundamos. A sua mão, braço, colo, oxigênio, pintavam o breu, precisamente. Não doía.

Quando você sentiu a areia gelada lá do fundo. Sem estepe, fazendo fumaça, era como se afundasse, também.

A água parecia invadir o barco, parecia estar batendo na âncora, parecia ter alguém preso lá. Era como estar pescando e sentir a isca sendo apanhada. Aquele mesmo movimento inquieto da linha. Puxei os cabos até a proa. Uma sombra se debatia entre a pata e a cruz da âncora. Não dói. Acordei de ti.   

2 comments:

Aline Miranda said...
This comment has been removed by the author.
sirena said...

que sonho,
novinha,
que sonho!

[visualizei e fiquei com falta de ar]

About Me

My photo
I'll meet you in the light.

Followers