blue light
Monday, 31 August 2015
no pasa nada todos los días
a sala repete uma estória
- se quebra em cacos
as vezes não dá pra parar.
repete a parede aquela mão e corta
termino esbarro o cheiro uma vez só
não paro e não paro
você deitada no final do corredor
não cabe no apartamento
o teu cabelo caindo pintado
não cabe na quina da cama
tuas costas um ponto vermelho
não cabem na mesa de centro
tua boca e juízo
não cabem de jeito nenhum
não cabem nem saem daqui
tua barriga cortada
não cabe embaixo do sofá
e a porta não fecha
Tuesday, 17 June 2014
Friday, 13 June 2014
Love to a monster
0000113062014
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Tuesday, 22 April 2014
Sol maior
se seis fosse nove
os meus cabelos cairiam no teu corpo
tua mão agitaria a minha espera
na canção e no rádio
você falava, sentava e dançava
em mim
o sol maior passaria sobre o equador
e sobre tua casa também
e lá naquela esquina
os números partiriam da linha do teu vestido
e te reduziria a um só
o sol na casa oito
encarnado
os meus cabelos cairiam no teu corpo
tua mão agitaria a minha espera
na canção e no rádio
você falava, sentava e dançava
em mim
o sol maior passaria sobre o equador
e sobre tua casa também
e lá naquela esquina
os números partiriam da linha do teu vestido
e te reduziria a um só
o sol na casa oito
encarnado
Monday, 14 April 2014
Saturday, 14 September 2013
Maresia
esperei a maré secar, sereia
avesso quadrado do espaço
findava o quase remoto portão
não muda a cor
você de laço dado, febre, contorno
e eu esperando a maré encher
e eu esperando a maré chegar
Thursday, 12 September 2013
Cruzando raios
uma onda suspensa, norte e sul
entre meio a tempestade.
a resistência pontual,
na linha do equador
a tua mão me segurava por dias
cruzava aquele muito longe
espaço sideral permanente
dava para ver desse lado
o quanto corria para ficar do teu
à margem de um pedaço, contramão
era um pouco emergente
o pouco caminho, o meu voo
era teu corpo a tiracolo
era o argumento, o começo
pesava o giro, retorno
e eu me sentia como você
o mar secou, esperei
entre meio a tempestade.
a resistência pontual,
na linha do equador
a tua mão me segurava por dias
cruzava aquele muito longe
espaço sideral permanente
dava para ver desse lado
o quanto corria para ficar do teu
à margem de um pedaço, contramão
era um pouco emergente
o pouco caminho, o meu voo
era teu corpo a tiracolo
era o argumento, o começo
pesava o giro, retorno
e eu me sentia como você
o mar secou, esperei
Wednesday, 11 September 2013
Um gosto de sol
fita branca na janela, desconfiei
pano, véu, flanela, ópio
pra desencardir
luva, pó, sangue paleta
papel tomado a seco
bebo toda a boca falta
para estancar
o ponto vazio entre o lábio pintado
do outro lado do corredor
duas pedras de gelo sumindo, delírio
beira o estorvo comendo o teu nome
limpando os teus gestos, teus beijos
caindo de adeus, afinco - exilado
descasco o pedaço daquela janela
carmim correndo com medo
duas luas, fogo e sal
pra embalar
o corte de sol, partido
bebo toda a boca
estanca
Tuesday, 30 April 2013
Acrilírico
Virando nós marítimos
Uma linha no espaço sideral
Permeia de um lado ao outro
Um sino batendo revés
A sombra virada pro mar
Um olho de cada cor
Ao partir do estado final
Tão longe que
Era você que estava sentada
Aquela janela dizia tudo de ti
O ponto seco voltando e indo
Nunca enxergava o lado de fora
Você cabia em mim
Uma légua pela metade
Teu pó e língua
A um passo de nós
Marítimos em fim
Uma linha no espaço sideral
Permeia de um lado ao outro
Um sino batendo revés
A sombra virada pro mar
Um olho de cada cor
Ao partir do estado final
Tão longe que
Era você que estava sentada
Aquela janela dizia tudo de ti
O ponto seco voltando e indo
Nunca enxergava o lado de fora
Você cabia em mim
Uma légua pela metade
Teu pó e língua
A um passo de nós
Marítimos em fim
Friday, 12 April 2013
Your latest trick
Sonho no convés
A tempestade estava quebrando, ou, pelo menos, parecia. Não estávamos
a bordo de nada. A bombordo de nada. Era um espesso frio que descia pela espinha.
Que circulava as nossas mãos, que não se tocavam em nenhuma hipótese. Era um
áspero espasmo que tremia as fissuras daquela areia submersa, que a gente,
também, não toca. Quanto mais perto de te tocar estava, mais a correnteza nos
punha onda abaixo, aquele respirar contínuo, boca aberta. A nossa temperatura
não condizia com a do mar. A voz falhava, não existiam hipóteses, nem
horizonte, nem veleiro, nem âncora. É sempre inverno naquela espuma em neve,
que voa com o vento. É sempre um inverno calmo, sombrio. A gente não enxerga
debaixo d’água. Mas te via, mesmo assim, cada vez mais longe. A tempestade
fazia caminho inverso, ela acalmava assim que os minutos faziam você afundar. A
gente também não tinha fôlego, foi como desistir de estar em um lugar que te
pertence. Foi exatamente assim que afundamos. A sua mão, braço, colo, oxigênio,
pintavam o breu, precisamente. Não doía.
Quando você sentiu a areia gelada lá do fundo. Sem estepe,
fazendo fumaça, era como se afundasse, também.
A água parecia invadir o barco, parecia estar batendo na
âncora, parecia ter alguém preso lá. Era como estar pescando e sentir a isca
sendo apanhada. Aquele mesmo movimento inquieto da linha. Puxei os cabos até a
proa. Uma sombra se debatia entre a pata e a cruz da âncora. Não dói. Acordei
de ti.
Monday, 10 December 2012
Debajo de los rizos de su pelo
o rádio parou naquela estação
naquela canção de amor
que tem a cor do seu barco
parado no colo
nos meus olhos, também
e agora era silêncio
mas era tão alto que
entoava a nossa dança
era tão cafona que
você ria por todo lado
era tão bonita que
sumia toda a sala de estar
daquela vez que
você não sabia a música de cor
Sunday, 4 November 2012
Head over heels
A lua cheia beira ladeira
Três graus. Pelo rádio, a terra em chamas. O cais, uma ladeira. As ondas, o silêncio. Eu também gritava esse silêncio. Gritava para escutar a cor anis da segunda lua cheia de agosto. E quando a tua música começou a tocar, sentia um embaraço percorrendo meus lábios, um nó atado pela tua ausência, pela tua presença, também. Não iria nunca mais dançar. Pés, cintura, mãos, olhos, batimentos, tudo acompanhava o teu ritmo. E eu pensava, ao olhar todas aquelas sereias cantando na ponta da pedra escura, na pedra que era também submersa, - na avalanche que me deitava o corpo e fazia-se meu - que, devagar, aquele canto me cegaria até apagar as coordenadas de volta pra casa e criar guelras, escamas, espinha, até não dormir, sem pálpebras, sem sono, sem nada além da fissura estampada na primeira página de um jornal diário.
E ao acordar, muitas vezes em cima do cantil vazio, regurgitava o último pensamento, que virava o primeiro de um novo dia navegando: em algum lugar, a gente dançava, a gente existia sim. Mate-me.
Desci o barquinho preso na popa do navio. O prendi com uma corda larga e nos joguei no mar. Era noite de lua, ainda. Só pensava que poderia desprender aquela corda e ir nós marítimos atrás do teu cais. Que beirava aquela lua toda. Ela era azul, eu te encontraria. O teu olhar caiu no breu. Não queria saber se era uma quimera, se era paisagem, miragem, vertigem. Era a tua voz entoando nas pequenas ondas, já tão próximas do meu barquinho sem motor, preso na corda, preso, na verdade, a uma lástima, a uma euforia, a uma rebelião sentimental, um esquecer permanente, que me fazia soterrar somente àquele momento. Subi pela corda. Joguei a âncora em alto mar. Já não tinha razão alguma para esperar ela afundar em terra submersa. Voltei ao barquinho. Agora com um remo, uma alga colorida, uma garrafa vazia, cheia de papel. A lua se aproximava. Não era sereia. Era irremediável, o continuar.
Remei ate o farol do cais. Do teu cais. Mucuripe. O nome do teu cais arrebatava as ondas calmas com meu remo. O teu gosto me invadia sal à dentro, maresia confundida com suor. Será que todas as noites de lua eu sairia, assim, cigana, pra te procurar? Ah, mas era você... Era tudo que eu via naquela névoa sem linha de horizonte, entende? Era sua a direção estampada na minha bússola. A luz do farol estava verde, por causa da névoa. Seria difícil te encontrar em outra cor. O teu amor faz cometer loucuras. Era o que minha boca seca sussurrava ao se aproximar daquele cais. E que te prometi um beijo no píer. E pensava que qualquer lugar seria um píer, quando era você. É que estava sempre a margem de algo infindo. O mar é infindo. O píer, uma margem.
A lua se desfazia em seu provável último raio. O céu já vermelho. O farol nem piscava mais. Era carnaval em agosto. Era carnaval o ano inteiro. Era carnaval porque o botão da tua blusa amarela caiu na rua de pedra e era quarta feira de cinzas. E eu ficaria ali, assistindo, em terra firme, o teu dia, a tua lua se desflorar e virar outro mês, outra hora, outra vez. Outra vez ali, e sem você também. Mas o que mais me atraia em ir deitar no teu cais, na lua cheia, era que você, esporadicamente, deveria ir ali, também. Então, em algum tempo-espaço, a gente dança, naquele mesmo cais.
E, na areia, distraída, achei outro botão. Sabe aquelas conchas que achamos? Aí a gente encosta nelas e escuta o ronco do mar. Ali sem água, mesmo no concreto, o ronco dele está perto. Encontro botões, assim, também. Na areia, no vidro, no mar. E, mesmo distante, assim como as conchas estão do mar, te escuto chegando. Escuto você sussurrando sua volta ao cais.
Thursday, 1 November 2012
Careless whisper
Os dragões também dizem sim ou O hibrido escafandro
A água ficou vermelha. Um oceano inteiro nos meus olhos.
Virei escafandro. Ao nadar por aquelas águas, tudo parecia genuinamente meu. É
que, no azul, não poderia mergulhar. Não sabia aonde ir, como chegar, como
voltar. Seriam seus os sinais, se era azul, também, o seu sorriso, da cor do seu
adeus. Tudo permanecia azul, porque você era azul, sereia.
Num mar vermelho, turvo, esquecido, estava tudo bem. Desci
até sentir a pressão entrar no meu peito. Ou sair. Fechei os olhos. Era minha
única opção: achar o rosto por trás da voz. É que estava condicionada a ver seu
rosto em qualquer parte do mar. Eles só viam pedaços do teu corpo, lembracas do
teu mapa, algas do teu girassol, conchas em teus botões, azul da cor da tua
janela. De olhos fechados, não via tudo você. Poderia reconhecer teu canto, o
verdadeiro. Fechados. Já fazia um tempo em que não nadava com ancora, corda
presa nos pés. Machucava tuas barbatanas. Cada vez mais, você virava do mar.
Quase não saia mais pra superfície, o azul também era tua casa.
Eu tinha ar para sete minutos. Agora seis e cinqüenta e três.
Dancava no profundo vermelho. No finito... Tuas mãos em minhas mãos. Sentia teu
ar no vidro do escafandro. Meus pés de pato, tua calda. Um satélite energizando
a água, de vermelho para o negro. Sumimos. Na dança, nadávamos. Na velocidade,
imprecisa, de nós marítimos humanos. O satélite no vidro entre o teu rosto e o
meu ar de quatro minutos e vinte. Não poderia escapar. Prendi a respiração,
ainda você no vidro. Segura meu ar, sereia. Me segura.
Saí do vidro. Já não era mais escafandro. Era híbrido,
terminantemente escasso, participante do teu mundo de guelras. Um vôo em emergência,
num mar completamente vermelho. Abri os olhos. Abri os olhos no azul dos teus.
Desencadeava algo que chamavam de Sol do Dragão. Era o mar vermelho, pelo fogo
que os dragões marítimos carregavam, e queimava a água inteira. Sem poder
despejar tanto fogo, a pigmentação corroia toda a maré. E nessa maré, era possível
ver todos os, também híbridos, seres ciano-magenta que permaneciam camuflados, meio
a todo o azul do oceano. A densidade no Sol do Dragão era mais intensa, então estávamos
todos em desaceleração constante. Estávamos presos no tempo dos dragões. O meu
ar de quatro minutos e vinte reduziria, ou acabaria, ou estenderia por horas.
Estava a todo vapor, a mercê do Sol hibrido desacelerado em construção. Você continuava
azul. Sua dança em movimentos parcialmente espaciais. Seu sorriso destruía,
calmamente, a minha pressão submarina. Meu coração, agora hibrido, parava e soluçava
em voltas quando sua dança chegou a mim. Ela tocou, milimetricamente, todos os
fios da minha cor inexata oceânica. Sua calda esparramada na agora nossa dança.
“Não dói”.
Estávamos à queima roupa. Dois passos em velocidade lunar.
Os cavalos percorriam nossa atmosfera em passos acelerados, cabeça pra baixo, círculos
violentos de ar pelos poros azulados. Firmamos as mãos, adágio. Collé. O
submundo marítimo sucumbia pelo mar vermelho. Abissais tentavam chegar a terra
para descolorir a indevida freqüência que os dragões pintaram. Híbridos corpos em devant. Costas arqueadas. Nenhum
marujo havia beijado a boca de uma sereia, antes. Era letal para qualquer
sentido humano. Mas no Sol, com o mar vermelho, também era um ser do mar. Não haviam
lábios a serem tocados. Só aquela sensação de perder-se. Eu sabia que se
ficasse, ela estaria sempre ali. Peixes pescadores se misturavam a esponjas,
sua luz já não iluminava. Espectros e corais continuavam em ordem, em descanso
e luto absoluto. Sissone. Salto em duas pernas, caindo em uma só. Estando em
uma só. Era a ultima coisa que queria fazer. Passaria o resto de meu tempo
tentando lembrar apenas daquela sensação de ser Azul, de ser organismo parte do
teu mundo.
Uma correnteza enviesada para cima. O mar escurecia. A noite
caia ali, também. Caia e levava com ela a cor vermelha dos dragões. Ouviam-se
sussurros quentes, eles iam embora, deixando todo o azul do mar no seu devido
estado de outrora. A correnteza me levava para a beira daquele oceano. Ah, você.
Voce que é daqui. Eu que não fico. Que também não vou... Não vou porque resisto
exatamente assim. Resisto na cor mais bonita. Na tua cor.
Vinte e cinco segundos de ar. De cabeça pra baixo, retornava
a superfície. Minha roupa de escafandro pairava há alguns metros dali. Ainda
era dia, pelo céu. Pelo mar, era noite. Nadei até o navio. No vidro da cabeça submarina,
marcava os mesmos quatro minutos e vinte. Eu estava suspensa, no tempo dos dragões.
Permanecia em você, à queima roupa. “Não
dói”
Thursday, 11 October 2012
Speedway
And when you slam down the hammer
Can you see it in your heart?
All of the rumours keeping me grounded
I never said that they were completely unfounded
When you slam down the hammer
Can you see it in your heart?
Can you delve so low?
And when you're standing on my fingers
Can you see it in your heart?
And when you try to break my spirit, it won't work.
Because there's nothing left to break anymore
All of the rumours keeping me grounded
I never said that they were completely unfounded
You won't sleep until the earth that wants me
Finally has me, you've done it now
You won't rest until the hearse that becomes me
Finally takes me, you've done it now
You won't smile until my loving mouth
Is shut good and proper
FOREVER
All of the rumours keeping me grounded
I never said that they were completely unfounded
And all those lies, written lies, twisted lies
Well, they weren't lies!
They weren't lies
They weren't lies.
I never said I could have mentioned your name
I could have dragged you in
Guilt by implication, by association
I've always been true to you
In my own strange way
I've always been true to you
In my own sick way
I'll always stay true to you.
Can you see it in your heart?
All of the rumours keeping me grounded
I never said that they were completely unfounded
When you slam down the hammer
Can you see it in your heart?
Can you delve so low?
And when you're standing on my fingers
Can you see it in your heart?
And when you try to break my spirit, it won't work.
Because there's nothing left to break anymore
All of the rumours keeping me grounded
I never said that they were completely unfounded
You won't sleep until the earth that wants me
Finally has me, you've done it now
You won't rest until the hearse that becomes me
Finally takes me, you've done it now
You won't smile until my loving mouth
Is shut good and proper
FOREVER
All of the rumours keeping me grounded
I never said that they were completely unfounded
And all those lies, written lies, twisted lies
Well, they weren't lies!
They weren't lies
They weren't lies.
I never said I could have mentioned your name
I could have dragged you in
Guilt by implication, by association
I've always been true to you
In my own strange way
I've always been true to you
In my own sick way
I'll always stay true to you.
Tuesday, 11 September 2012
Hindue blues
o enterro no cais
quarenta graus. embarco mesmo assim. tripulação, não temos âncora. presos no cais. o vento não balança nem as ondas. não balança nem a sensação térmica de trinta, não balança nem o teu cabelo de areia, sereia. não posso te olhar. vinte e oito graus. quase terra firme à vista, quase você, seus olhos me tirando o foco, me perdendo a mão, a dança, o pôr do sol, tudo que não foi, tudo que não tinha você, eu perdi tudo isso, me perdi, sereia.
andei por cima daquele porto, cada cais, cada barco, cada peixe fora d'água, cada luz, corda, verso, ponte, pedra, terra, névoa, barulho, letra, escuro, tudo no seu dirigível. não. só piloto barco, a maresia me distrai e viro pó, também. andamos mais depressa, assim. descemos do dirigível. era você, sereia. quase na borda, quase sangue... quando abriu os olhos, sabia que seria exatamente assim. eu não podia olhar pra você. hipnotizo. mas sua calda, fisgada, seu sangue na areia, seu frio te deixando azul, tua tristeza tão minha... olhei. fato. cortou meu coração, a mesma farpa que cortou tua calda. "não dói" ah, sereia... ah, você... e essa lágrima, então? e esse adeus? você é grande, mas eu te pego, te coloco no meu agasalho. será que, se te beijar, você vira gente? será que eu viro sereia, também? será que a gente vai embora, então? serão teus os pés a navegar no dirigível? serão teus os olhos tão distantes que tento puxar pro meu cais? ah, não, sereia. dói sim. você pode explicar sim, sem falar... o teu volume pesa em mim. não, não, não abre o olho, você... abriu. mesmo no escuro, te vi. dói, sereia. mas dói baixinho, dói só aqui, quando você tá indo embora. mas também sou do mar. eu volto com você. te faço um carinho, te deixo na fenda que dormes, nunca mais uso âncora, sem pretexto pra te prender.
quinze graus. desci do convés, me curvei até tocar a água, minha mão mergulhada no balanço das ondas. o sol nascendo. fechei o olho. agora pra te ver, sereia... você é tão bonita. sua mão quase emergiu do mar, tocando a minha. não faz mal. não dói. vou beber mais garrafas. assim as tuas cartas tem morada mais rápido, e, quem sabe não chegam onde estás? ah, você deveria cantar, sim.
me canta até te encontrar, sereia.
quarenta graus. embarco mesmo assim. tripulação, não temos âncora. presos no cais. o vento não balança nem as ondas. não balança nem a sensação térmica de trinta, não balança nem o teu cabelo de areia, sereia. não posso te olhar. vinte e oito graus. quase terra firme à vista, quase você, seus olhos me tirando o foco, me perdendo a mão, a dança, o pôr do sol, tudo que não foi, tudo que não tinha você, eu perdi tudo isso, me perdi, sereia.
andei por cima daquele porto, cada cais, cada barco, cada peixe fora d'água, cada luz, corda, verso, ponte, pedra, terra, névoa, barulho, letra, escuro, tudo no seu dirigível. não. só piloto barco, a maresia me distrai e viro pó, também. andamos mais depressa, assim. descemos do dirigível. era você, sereia. quase na borda, quase sangue... quando abriu os olhos, sabia que seria exatamente assim. eu não podia olhar pra você. hipnotizo. mas sua calda, fisgada, seu sangue na areia, seu frio te deixando azul, tua tristeza tão minha... olhei. fato. cortou meu coração, a mesma farpa que cortou tua calda. "não dói" ah, sereia... ah, você... e essa lágrima, então? e esse adeus? você é grande, mas eu te pego, te coloco no meu agasalho. será que, se te beijar, você vira gente? será que eu viro sereia, também? será que a gente vai embora, então? serão teus os pés a navegar no dirigível? serão teus os olhos tão distantes que tento puxar pro meu cais? ah, não, sereia. dói sim. você pode explicar sim, sem falar... o teu volume pesa em mim. não, não, não abre o olho, você... abriu. mesmo no escuro, te vi. dói, sereia. mas dói baixinho, dói só aqui, quando você tá indo embora. mas também sou do mar. eu volto com você. te faço um carinho, te deixo na fenda que dormes, nunca mais uso âncora, sem pretexto pra te prender.
quinze graus. desci do convés, me curvei até tocar a água, minha mão mergulhada no balanço das ondas. o sol nascendo. fechei o olho. agora pra te ver, sereia... você é tão bonita. sua mão quase emergiu do mar, tocando a minha. não faz mal. não dói. vou beber mais garrafas. assim as tuas cartas tem morada mais rápido, e, quem sabe não chegam onde estás? ah, você deveria cantar, sim.
me canta até te encontrar, sereia.
Tuesday, 4 September 2012
Lipgloss and cigarettes
blue moon, um dia depois. minha boca em chamas, no primeiro dia de primavera. não sei dançar, mantenho a distancia, permaneço na impossibilidade. dormi tarde, era segundo dia de primavera. acordei tarde, também. pensando em lembrar da música que dancei com você, agradecendo muito não ter sido embalada pela vodka. dormi de novo e me permiti, ao acordar, colocar meu sueter sem cor, a bota suja de lama, um maço de cigarros, que até poderia apagar, sim, e desci sem caminho algum. parei em frente a sua janela, procurando um motivo para estar ali. não achei nenhuma boa razão pra te contar, então desci a rua sob o pretexto de que, por um dia, te levaria para um passeio, como se fossemos heróis. você seria má. e eu beberia o tempo inteiro. então nada poderia nos manter juntas, e roubariamos o tempo, assim, por esse dia. ou, simplesmente, escreveria sobre esse dia, com o cheiro de cerveja da sua boca, também cortada, também distante, de trilha sonora. mas, na verdade, eu não sabia qual daquelas era a sua janela. então acendi outro cigarro, lembrei da louça pra lavar, quase lembrei da música, também, desejando não ser I'll never gonna dance again
Sunday, 15 July 2012
Janela lateral
quando eu falava dessas cores mórbidas
dos homens sórdidos, do temporal
o cavaleiro marginal
mas isso é tão normal...
Tuesday, 10 July 2012
Last dance for Venus
Enquanto eu mergulhava, me perguntava se era você ou eu, que
morria.
Se ao te partir, ainda ia restar alguma coisa dentro de mim, de nós.
Ou
se ia esvair-se como a linha que me puxava pra superfície - e encenei não
alcançá-la.
Pediria um cálice cheio de qualquer coisa, pra preencher o vazio
que você deixou,
quando a nossa valsa chegou ao fim.
Qualquer pouco seria o
suficiente para me afogar por completo, pra me deixar.
Te deixar por um instante.
E, virando poeira, meus olhos apagam a chama que me vigiava
do fim ao começo,
num intervalo imóvel.
Pois o azul que me preenche é o mesmo que te
invade, que nos cala.
Que decai sobre os teus cabelos, me despedaçando
Que te fere sem tocar, no embalo
Que me entrega o pesar, diminuto
Que te enterra em nuvens, o silêncio
Que termina em dois passos, a valsa
Que me chama, acende: a última
Que sussurra o par, vazio
O azul que
Perdendo a cor,
Final e presente
Revela ao amorfo, você.
Sunday, 1 July 2012
Monday, 16 April 2012
The velocity of Saul at the time of his conversion
Loosen the wire/ Your time has expired/ the only word left is "goodbye."/ In my new dream the light's shining on me/ Little needles of sodium unstitch the seams of the sky/ Hold your head higher/ The heavenly choir is settling in for the night/ And where I had friends I am left with loose ends/ Four hours of vision exchanged for four hours of fright/ But enough of "the fight"/ Enough "you and I"/ Enough of "prevail" or "walk in the light."/ While the angels stand by/ I get high as a kite/ I'm too tired to smile or know that I'm right/ Am I right?/ And all our best-laid plans/ They crumbled in our hands/ Our flags fell where they'd fanned/ You held in your breath/ Long after projections of death/ You sat in the waiting room gasping and rasped on dry land/ But the audience is tired/ "we've had enough fire, we're entering the age now of ice."/ And I, feeling older, pull off to the shoulder/ And wonder, with my head in my hands/ Should I call my wife?/ And say "enough 'you and I,' enough of 'the fight,' enough of 'prevail' or 'walk in the light'?"/ While the angels stood by/ I got high as a kite/ Too tired to smile or know that I'm right/ And when the spacecraft came down/ I was left on the ground/ Will you keep me around, will you help me survive after my
(Okkervil River)
(Okkervil River)
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